Propunha uma visão épica da história pátria,com visão estética do mito e na universalidade de sentimentos que vai buscar o elemento estrangeiro para salientar o elemento nacional, representando o ponto alto da vertente nacionalista e ufanista do Verde amarelismo.
Constituído de poemas de ritmo e forma variada,aproximando-se das histórias em quadrinhos.
O enredo desenvolve a lenda do surgimento da noite e do desenvolvimento do Brasil.O índio Aimberê e o marinheiro branco Martim apaixonam-se pela Uiara, que propõe se casar com aquele que lhe trouxer a noite.
Martim vai à África e traz a noite que são os negros escravos.
Da união, surgem os bandeirantes,que desbravam.
Nos sertões plantam o mar verde dos cafezais e constroem as fábricas e arranha-céus na metrópole paulista.
Falava principalmente do surgimento de uma raça nova,produto da miscigenação, que deveria produzir um tipo especial de brasileiros, filhos de todos os povos.Surgindo então a crença na “democracia biológica”,inventada pelo próprio Cassiano Ricardo,fundada na ausência de preconceito de sangue.
Assim esse poema propunha uma visão épica da pátria, exaltava o bandeirismo,buscava mitologia nacional,vinculava-se à civilização cafeeira e a industrial e a “democracia biológica”.
O "ACHAMENTO"
A terra é tão fermosa
e de tanto arvoredo
tamanho e tão basto
que o homem não dá conta.
No clarão matutino
os tucanos rombudos,
eram como figuras
a lápis encarnado
e que houvessem fugido
do caderno escolar
em que Deus aprendia
desenho, em menino.
Tupis em alvoroço,
tribos guerreiras, mansas,
troféus verdes na ponta
dos chuços e das lanças.
Jequitiranabóias.
Colar de osso ao pesocço,
vermelhas araçóias,
cocares multicores.
Cada qual com o seu sol
de plumas à cabeça.
Guerreiros da manhã
que haviam já descido
dos Andes à procura
da Noite, que estaria
para os lados do Atlântico.
Agora se debruçam,
reunidos, ombro a ombro,
sobre a Serra do Mar,
e espiam, com assombro,
o dia poruguês
que saltara das ondas
qual pássaro marinho
ruflando a asa enorme
das velas redondas
por errar o caminho,
e os homens cor do dia
que sairam de dentro
do pássaro marinho!
E em nome do seu povo,
sem saber se quem chega
é fidalgo, ou plebeu;
anjo de cor bronzeada,
cabelo corredio,
nu, listado em xadrez,
tal como Deus o fez,
vem o dono da casa
e oferece o que é seu:
águas, cobras, flores!
Nisto a manhã louca
grita: “bem-te-vi”!
E o Marinheiro branco,
coração já confuso,
ouve, maravilhado,
no gorgeio de um pássaro,
o idioma, que, com pouca
corrupção, crê que é luso.
Como explicar que uma ave
de país tão agreste,
diga que bem me viu,
se tu, ó Pai celeste,
não houvesses previsto
que a terra dadivosa
seria descoberta
por quem a descobriu?
Parece que dois povos
tinham marcad encontro
À sombra de tal Serra,
nessa manhã sem par.
Um que vinha do Mar
seguindo a lei do Sol,
em busca de um tesouro
chamado Sol da Terra
(um novo Tosão de Ouro);
outro vindo da Terra
para os lados do Atlântico
à procura da Noite
como se advinhasse,
por estranha magia,
que havia o Mar da Noite.
Pois no fundo das águas
é que a Noite estaria.
(Martim Cererê, Rio, José Olympio, 1994)
Magnífico
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