segunda-feira, 13 de abril de 2009

MARTIM CERERÊ

Propunha uma visão épica da história pátria,com visão estética do mito e na universalidade de sentimentos que vai buscar o elemento estrangeiro para salientar o elemento nacional, representando o ponto alto da vertente nacionalista e ufanista do Verde amarelismo.

Constituído de poemas de ritmo e forma variada,aproximando-se das histórias em quadrinhos.

O enredo desenvolve a lenda do surgimento da noite e do desenvolvimento do Brasil.O índio Aimberê e o marinheiro branco Martim apaixonam-se pela Uiara, que propõe se casar com aquele que lhe trouxer a noite.

Martim vai à África e traz a noite que são os negros escravos.

Da união, surgem os bandeirantes,que desbravam.

Nos sertões plantam o mar verde dos cafezais e constroem as fábricas e arranha-céus na metrópole paulista.

Falava principalmente do surgimento de uma raça nova,produto da miscigenação, que deveria produzir um tipo especial de brasileiros, filhos de todos os povos.Surgindo então a crença na “democracia biológica”,inventada pelo próprio Cassiano Ricardo,fundada na ausência de preconceito de sangue.

Assim esse poema propunha uma visão épica da pátria, exaltava o bandeirismo,buscava mitologia nacional,vinculava-se à civilização cafeeira e a industrial e a “democracia biológica”.



O "ACHAMENTO"

A terra é tão fermosa

e de tanto arvoredo

tamanho e tão basto

que o homem não dá conta.

No clarão matutino

os tucanos rombudos,

eram como figuras

a lápis encarnado

e que houvessem fugido

do caderno escolar

em que Deus aprendia

desenho, em menino.

Tupis em alvoroço,

tribos guerreiras, mansas,

troféus verdes na ponta

dos chuços e das lanças.

Jequitiranabóias.

Colar de osso ao pesocço,

vermelhas araçóias,

cocares multicores.

Cada qual com o seu sol

de plumas à cabeça.

Guerreiros da manhã

que haviam já descido

dos Andes à procura

da Noite, que estaria

para os lados do Atlântico.

Agora se debruçam,

reunidos, ombro a ombro,

sobre a Serra do Mar,

e espiam, com assombro,

o dia poruguês

que saltara das ondas

qual pássaro marinho

ruflando a asa enorme

das velas redondas

por errar o caminho,

e os homens cor do dia

que sairam de dentro

do pássaro marinho!

E em nome do seu povo,

sem saber se quem chega

é fidalgo, ou plebeu;

anjo de cor bronzeada,

cabelo corredio,

nu, listado em xadrez,

tal como Deus o fez,

vem o dono da casa

e oferece o que é seu:

águas, cobras, flores!

Nisto a manhã louca

grita: “bem-te-vi”!

E o Marinheiro branco,

coração já confuso,

ouve, maravilhado,

no gorgeio de um pássaro,

o idioma, que, com pouca

corrupção, crê que é luso.

Como explicar que uma ave

de país tão agreste,

diga que bem me viu,

se tu, ó Pai celeste,

não houvesses previsto

que a terra dadivosa

seria descoberta

por quem a descobriu?

Parece que dois povos

tinham marcad encontro

À sombra de tal Serra,

nessa manhã sem par.

Um que vinha do Mar

seguindo a lei do Sol,

em busca de um tesouro

chamado Sol da Terra

(um novo Tosão de Ouro);

outro vindo da Terra

para os lados do Atlântico

à procura da Noite

como se advinhasse,

por estranha magia,

que havia o Mar da Noite.

Pois no fundo das águas

é que a Noite estaria.

(Martim Cererê, Rio, José Olympio, 1994)




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